Confronto

"Só contigo te salvas ou condenas. Os teus amigos, mesmo os mais chegados, não estão contigo na hora grave de seres. Está-se só a toda a hora, não apenas à pascaliana hora da morte. Ninguém pode ser em vez de ti a seres. O que és, é-lo só tu. Quem está com os outros, quando estás, é o teu sósia, não muito parecido, aliás. E esquecendo-te a ti, esqueces o que anda aqui a querer comunicar contigo, o fantástico do que existe, o mistério do que é, o silêncio intrínseco do mundo, que é a sua morada. Pôs-te a vida um segredo íntimo de ti. Escuta-o. Não o poderás revelar a ninguém, nem mesmo a ti. Mas como podes morrer sem saber ao menos que existe? Como pode a vida tê-lo desperdiçado contigo? É o mistério das coisas, a verdade secreta de elas serem. Ninguém pode ser por ti. O que és com os outros é o lado de fora de seres. Cerra os olhos sobre ti, ao menos de vez em quando. E adormece, se puderes, no centro do mundo. E terás conhecido a tua imortalidade." Vergílio Ferreira

Como pode alguém morrer sem o ter conhecido...?

A forma como escreve, se expressa, sempre sem dogmas,...

Neste momento estou a ler Mudança, um dos muitos livros do Vergílio.

Existe um fascínio pela forma como faz pensar.

"No seu desprendimento por tudo, naquela traição à vida que lhe envenenava o sangue. Mais forte, porém, que a razão, era o desejo absoluto de esquecer."

Neste momento, nesta fase, o que mais apetece, é esquecer o que ficou pra trás, existe qualquer coisa nova a construir.

There is not beginning or end, only change.

Quando o conheci pela primeira vez, em Aparição, existiu logo consonância no rumo.

A certa altura disse "Afinal Deus não existe", foi preciso ele dizer pra eu entender, foi o confronto com a verdade. A minha e a dele, pelo menos, naquele momento.

Desde há seis anos que o conheço, e sempre que vou ter com ele sinto me assim, no centro do mundo.